segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Museu do chocolate Michel Cluizel

Cansado de histórias de castelos, palácios, fortificações, catedrais, igrejas e jardins? Se sim, entre agora comigo num mundo de fantasia e doçura (atenção aos elevados níveis calóricos dos mesmos) e sem chuva à mistura (hahaha).

Vamos para o mundo do chocolate, não para a fábrica de Willy Wonka mas para a de Michel Cluizel,  situada em Damville, a 105 km de Paris e a 80 km de Rouen.


Michel Cluizel, um prestigiado chocolateiro Francês, iniciou em 1948 a sua atividade. Os seus chocolates, de excelente qualidade, distinguem-se dos outros pela não adição da lecitina de soja (emulsionante), corantes ou outra gordura vegetal adicionada a não ser a própria manteiga de cacau. Em 1997, apareceu também com um produto único no mercado: 1er cru de plantation, em que cada barra de chocolate contêm cacau de uma plantação específica, sem misturas e por isso considerado de "origem única".

Nesta fábrica de chocolate pode ser visitado o museu, com mais de 500 metros quadrados, dividido em várias salas: a galeria, a cinemateca, a oficina, a cenografia e a loja. Na entrada do mesmo são disponibilizados guias-audio e roteiros em Francês e Inglês.


Na galeria pode-se descobrir a interessante história do cacau e do chocolate, desde a sua origem.


O cacacueiro é uma planta nativa da América central há mais de 2000 anos e só existe em ambientes quentes (mais de 20ºC) e húmidos. Sabe-se que a civilização Maia já utilizava as sementes do cacacueiro para fazer uma bebida amarga chamada xocoatl, que temperada com baunilha e pimenta servia para combater o cansaço além de servir de afrodísiaco. Também os grãos, eram usados como moeda de troca, no comércio local.



Fruto do cacaueiro


Mais tarde, durante os descobrimentos marítimos, também os indígenas das Américas tomavam-no como bebida fria mas sem leite e nem açúcar, paladar esse amargo que não agradou os Europeus,  o que só aconteceu depois com a adição do açúcar de cana.


Durante o transporte marítimo, devido a problemas de conservação começou-se a prensar o produto sobre a forma de tabletes que ao serem consumidas eram previamente derretidas com água.


Cortés foi um dos primeiros exploradores a trazer esse produto para a Espanha, que depois se alastrou aos países vizinhos (apesar de ter ficado em segredo, um século, na Espanha). O produto utilizado como bebida ganhou forte popularidade a par de outras culturas das colónias como o chá e o café. E prosperou ainda mais quando começou a ser transformado sobre a forma de produto sólido doce (tabletes, bombons...). No século XIX apareceu a primeira fábrica de chocolate na Suíça.


Na galeria, também estão exibidos uma série de objetos antigos dedicados ao culto do chocolate, tais como o primeiro torrefator a gás das sementes do cacau da fábrica, refinador, laminador de caramelo e alguns distribuidores de chocolate líquido.



Primeiro torrefator (1950)


Na cinemateca é exibido um filme do cacau utilizado nos produtos da fábrica, desde a sua apanha nos cacaueiros, que podem atingir vários metros de altura. Depois dos frutos serem apanhados, as sementes são retiradas (cada fruto tem entre 20 a 40 sementes) e deverão ser tratadas rapidamente, para não apodrecerem.





Depois da fermentação, que deverá durar alguns dias (de 2 a 8 dias) para intensificar o aroma e o sabor, as sementes são colocadas ao sol e arejadas constantemente para evitar a formação de bolor (entre 4 a 5 dias), antes de serem ensacadas e enviadas para outros países, onde vai ocorrer o restante processamento.


 Após um rigoroso controlo de qualidade do produto, as sementes vão sofrer o processo da torrefação a 130ºC para desenvolver o aroma, sendo arrefecidas rapidamente. Depois de passarem por uma trituração, só a parte da semente limpa é que será aproveitada. Esta semente passa por uma moagem e dá origem a uma massa pastosa.


Massa essa que, depois de prensada e alcalinizada, irá dar origem à manteiga de cacau e à "torta de cacau". Parte desta última dará origem ao chocolate em pó, depois de ser pulverizada, peneirada e misturada com açúcar. A outra parte da "torta" será arrefecida e moldada em tabletes (pasta de cacau), que servirá para fazer o chocolate. A manteiga de cacau é o produto mais nobre e caro, pois não rança devido ao seu elevado teor de gordura e elevado tempo de conservação.


Na produção de chocolate vão ser utilizados a pasta de cacau, açúcar, manteiga de cacau, leite entre outros (em muitos chocolates Michel Cluizel, à excepção do chocolate negro, é utilizada a baunilha). As quantidades e os ingredientes variam de acordo com o tipo de produto e o fabricante.


Composto por cinco etapas: malaxação (mistura e homogenização dos ingredientes), refinação (o produto passa por cilindros de refinação, onde as partículas do açúcar são quebradas; esta etapa determina a textura e a qualidade do chocolate), conchamento (a massa recebe nova adição de manteiga de cacau e é mantida em constante movimento através de agitadores mecânicos), temperagem (permite a estabilidade do chocolate ao passar por várias temperaturas) e modelagem (distribuição em formas e arrefecimento).



Antigo refinador da fábrica  (1948)


Na oficina estão alguns profissionais que desenvolvem e trabalham o chocolate, fazendo os trabalhos mais elaborados e delicados, como estes.





Existe também uma cenografia que representa uma antiga oficina.





Na loja podem ser adquiridos os vários chocolates. Comprei esta pequena caixinha. O preço é astronómico (mais de 60 € por quilo) mas os chocolates são muito, muito bons (nham...nham...).






Embora os produtos da marca sejam muito bons (pelo menos eu achei), ainda existem poucas lojas (Rue Saint Honoré, Paris; 5ª Avenue, New York e algumas que comercializam Michel Cluizel em Inglaterra).

O preço da entrada no museu é de 5€ e inclui no final uma pequena amostra de chocolate. Escolhemos o chocolate de leite, mas o meu marido, não tendo ficado convencido, começou a teimar que o melhor chocolate seria mesmo o Belga ou o Suíço. E como estavamos bem mais longe da Suíça do que da Bélgica (Bruge fica a 320 km de Rouen), deixamos de lado a ida a Étretat, Dieppe e Le Havre e aí fomos nós... para Brugge!


Se consegui ler isto tudo ao fim e adora chocolate, já alguma vez tinha pensado no trabalho necessário para fazer um?

No próximo post não perca a nossa aventura na terra das waffles, das batatas fritas,  da cerveja e obviamente do chocolate!


3 comentários:

  1. O museu que descreve no seu artigo de hoje, parece ser bastante interessante. Desconhecia de todo a sua existencia. Obrigada por partilhar essa sua visita ao mesmo.

    Onde também existe um fantástico museu do chocolate é em Colónia, Alemanha. Se não o conhece e tiver curiosidade entre no site desse museu (http://www.chocolatemuseum-cologne.com/), ou no artigo que escrevi sobre o mesmo (http://turistaocasional.wordpress.com/2011/11/09/museu-do-chocolate-de-colonia/).

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  2. Olá turistaocasional,
    Quando tiver um tempinho irei visitar o seu blog.
    Obrigada pelo contributo!

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