segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Palácio Nacional da Ajuda

Quem olhar  para a fachada traseira deste  edificio  inacabado, de  estilo neoclássico,  ninguém  poderá imaginar as riquezas albergadas no seu interior, de um dos palácios mais bonitos em Portugal que vi até hoje.

Devido ao terramoto de 1755, o rei D. José I ordenou a construção de um palácio (o último a ser construído em Portugal) num local considerado "seguro", no alto da Ajuda. Livre de sismos mas não do fogo foi aqui construído um antigo palacete, feito em madeira, onde a familia real viveu durante três décadas. Depois deste ter sido destruído por um violento incêndio foi construído o actual palácio, iniciado em 1802, que deveria ser grandioso mas devido às várias interrupções e alterações ficou apenas com um terço do projecto inicial.

Devido às invasões Francesas, o palácio só seria habitado posteriormente. De 1826-28 foi habitado pela regente D. Isabel Maria e em 1862 por D. Luís I e sua esposa D. Maria Pia de Sabóia que o tornaram residência permanente. Também foi aqui neste palácio que D. Miguel foi aclamado rei absoluto e D. Pedro IV jurou a carta constitucional na sala do trono.


Fachada traseira, dianteira e uma das esculturas à entrada do palácio


Declarado monumento nacional desde a implementação da república (1910) foi encerrado e reaberto como museu algumas décadas depois. Actualmente, além de servir de museu e ser uma antiga habitação real é também sede de instituições ligadas à cultura (como o Ministério da Cultura) e palco de cerimónias oficiais do estado.
Podem ser visitados dois pisos, no interior da maior parte do palácio (nas alas nascente e sul), aberto ao público: o térreo ondem podem ser admirados 20 aposentos privados reais e o andar nobre composto por 17 salas onde se realizavam as grandes recepções da realeza.

No piso térreo é obrigatório a visita à Sala do Despacho (onde o Rei recebia os seus súbditos e tratava de documentos oficiais) não sem antes passar pela Sala Grande de Espera (o tecto é lindissimo), à Sala da Música (uma das distracções favoritas da família real), à Sala de Estar, ao Jardim de Inverno (aposento privado com o tecto e as paredes revestidas de ágata da Caledónia), ao Quarto da Rainha, à Sala de Retrato do Rei D. Carlos (as paredes necessitam de restauro), à Sala das Tapeçarias Espanholas, à Sala Rosa (bem feminina, com peças de porcelana, apreciadas essencialmente no século XIX, vindas da região Alemã de Meissen) e à Sala Verde (onde nasceu o rei D. Carlos).

Pormenores da sala grande de espera
Em cima: sala do despacho
Em baixo: sala da música
Em cima: sala de estar
Em baixo: jardim de Inverno
Pormenores do quarto do Rei


Esquerda: sala rosa. Direita: quarto da Rainha


No andar nobre devem ser admiradas as salas: do trono, de baile, do corpo diplomático e o atelier de pintura do rei além da majestosa e faustosa sala de jantar.


Pormenores da sala do trono e escultura da sala de jantar

Pormenores da sala de jantar


As várias e lindas colecções de arte: escultura, joalharia, ouriversaria, pintura, têxteis, trajes, mobiliário, vidro, utensílios e fotografia, presentes em ambos os pisos, são marcas dos últimos vestígios deixados pela realeza nos últimos cinco séculos, em Portugal.


Quadros e fotos dos vários monarcas
Portugueses


Depois demos um belo passeio pelo Jardim Botânico da Ajuda, situado próximo ao palácio. Fundado em 1768, pelo Marquês de Pombal, é considerado o jardim mais antigo de Lisboa e destinava-se a local de recreio da familia Real, com inúmeras espécies vegetais de todo o mundo.  Em 1918, este jardim foi entregue ao Instituto Superior de Agronomia. O ciclone ocorrido em 1941 veio devolver a linda vista sobre o Rio Tejo, devido à destruição de uma grande parte do bosque formado no século anterior.




Horário (Inverno) e preço (adulto):

Palácio Nacional da Ajuda- das 10 às 17.30H; 5€ mas gratuito aos Domingos de manhã.
Jardim Botânico da Ajuda- das 09 às 18.00H; 2€ durante a semana e 1,5€ ao fim de semana.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Visita à Casa Museu José Maria da Fonseca (Vinhos de Setúbal)

Conforme falado no post anterior, na viagem à margem sul, o ponto alto foi mesmo a visita à Casa Museu José Maria da Fonseca. Situada em Vila Nogueira de Azeitão, zona de bons vinhos ou não estariamos nós numa região vinícola demarcada por excelência, em particular o famoso vinho dourado, com sabor delicado e perfume suave designado por "moscatel".

 A qualidade do vinho está fortemente influenciada com a qualidade da uva e esta está dependente directamente do clima e do solo utilizado. Na região de Setúbal, se por um lado existem terrenos argilosos e calcários nas montanhas da Árrabida por outro temos numerosas planícies, que aliados a um clima caracterizado por poucas oscilações de temperatura e baixa pluviosidade, pela sua proximidade marítima, garantem assim o crescimento e a fácil manutenção dos vinhedos.


Fachada exterior da casa museu

Aqui, foi possível ver a antiga casa de família de José Maria da Fonseca, sendo que actualmente está na sétima geração e esta é a adega mais antiga de toda a região (produzem vinho desde 1834). Esta empresa tem continuado sempre nesta familia, embora o nome seja actualmente Soares Franco (devido a casamentos acabou por mudar).
No primeiro andar está situado o escritório e na parte de baixo as duas adegas visitáveis.

Inicialmente, começamos por ver uma sala museu onde foram dadas algumas explicações sobre a empresa, o seu espaço, um exemplar da primeira máquina de enchimento mecanizado de 1950 (ver foto abaixo à esquerda), vinda da França, que enchia 240 garrafas por hora, um verdadeiro recorde na época, nos anos 70 (actualmente, o enchimento é feito a larga escala e por hora são cheias 30 000 garrafas por hora)!  O vidro vinha da França e Inglaterra. O vinho Periquita (um dos mais famosos) é o dos mais antigos desta empresa e a ser enchido mecanicamente.




Vimos, também, os vários prémios (constituído por várias medalhas e diplomas expostos numa parede, conforme foto acima). Em 1834, José Maria da Fonseca ganhou pela primeira vez um prémio num vinho e pioneiro, na inovação, desenvolveu as vinhas em paralelo, o que permitiu que se pudesse utilizar máquinas entre as parreiras, numa época onde ainda não existiam máquinas para tal. Em 1855, o vinho "moscatel da casa" ganhou pela primeira vez uma medalha, em Paris.

Existem vinhedos no Douro, Alentejo e claro está Setúbal, compreendendo mais de 600 hectares que são utilizados nos vinhos aqui produzidos. Além do consumo interno também são feitas muitas exportações: o famoso "Periquita" para o Brasil, o "Lancers" para a América do Norte e outros para os países nórdicos.

Na primeira adega (Adega da Mata), onde está guardada uma pequena parte da produção do vinho Periquita, cerca de 800.000 litros estão divididos entre 36 tóneis de madeira de mogno (vinda do Brasil e África) e 120 barris de carvalho Francês e Americano. Os tóneis de diferentes capacidades (~20.000 litros) foram todos construídos aqui dentro deste local há 80 anos, à mão, numa madeira resistente e neutra uma vez que não deixa qualquer sabor no vinho. Antes de ser engarrafado, o vinho fica aqui pelo menos 6 meses, sendo utilizada a mistura de 80% vinda dos tóneis com 20% vinda dos barris.
No vinho Periquita são utilizadas três castas diferentes de uvas: o castelão (antigamente, denominada como "Periquita", daí o nome), a trincadeira e o aragonez. Existem vários tipos de vinho Periquita: tinto, branco, rosé e tinto reserva (fica pelo menos oito meses e meio somente em barris de carvalho e as castas são diferentes, pois além da casta castelão leva também as castas: touriga nacional e touriga franca) e Periquita superior (o topo de gama, que leva só a casta castelão).

A outra adega designada como "Teares Velhos" era uma antiga fábrica de têxteis utilizada para fazer o fardamento das tropas Portuguesas e Inglesas durante as invasões Francesas e uma antiga propriedade dos Duques de Aveiro (data de 1750) que em 1820 foi comprada por José Maria da Fonseca, para ampliar as suas instalações.

Aí funciona, actualmente, a adega de vinho moscatel, bem mais escura do que a primeira.  Estão, ali, distribuidos pelos vários e enormes barris, cerca de 400.000 litros de moscatel, com mais de 20 anos.
Os cantos gregorianos invadem o local, uma vez que havia aqui perto um convento (S. Domingos), embora estes não tenham qualquer influência no vinho, propriamente dita.


Barris da adega do vinho Moscatel


Este tipo de vinho é mais doce e fortificado, tal como o vinho do Porto, devido à adição de aguardente vínica que interrompe a fermentação quando esta se inicia, sendo posteriormente colocado em barris de carvalho, onde previamente foi colocado o vinho Periquita durante 5 anos.

Existem vários tipos de moscatel: o novo (fica entre 3 a 5 anos no barril), o velho (fica pelo menos 20 anos no barril) o de Setúbal superior, (é proveniente de vinhos de anos de grande qualidade e que depois ficam armazenados de 30 a 60 anos, tornando-se assim mais escuro, espesso e doce) e o Setúbal roxo (neste é utilizado uma casta específica de uva roxa, mais doce e rara, só desta região e diferente da vulgar uva moscatel cuja coloração se situa entre o branco e o amarelado).

Também está presente no local um poderoso candeeiro com 50 anos que reflecte as iniciais de José Maria da Fonseca, no chão, e uma reserva exclusiva da família cuja entrada está impossibilitada, pois nem a nossa guia tinha as chaves. Conseguimos tirar apenas uma foto a partir de uma pequena abertura da porta daquele cenário fantasmagórico e com valor incalculável, pois contém vinho moscatel de reserva com mais de 100 anos e 80 vintages de vinho moscatel, desde 1900, numa colecção única.


Colecção rara de vinho moscatel

Depois no final fizemos as provas de dois vinhos: o "Periquita reserva de 2008" (que eu não apreciei especialmente),  utilizado no acompanhamento de queijos e carnes e o "Moscatel Alambra de 2007" (delicioso), utilizado à temperatura ambiente para sobremesas ou como fresco para aperitivo. O custo é de 3€ por pessoa pela visita e inclui a degustação de dois vinhos no final (um branco ou tinto e o outro moscatel).

Por fim, provamos as boas e famosas tortas de Azeitão depois de tirarmos algumas fotografias da vila.

Tortas de Azeitão

domingo, 13 de novembro de 2011

Outubro, o mês dos miminhos!

Ah, como adoro um bom spa e uma boa massagem! No primeiro fim de semana do mês de Outubro dei-me ao luxo de ir fazer uma exfoliação corporal seguida de uma massagem com um delicioso cheirinho a baunilha, no SPA do hotel "The Lake" em Vilamoura.
Tendo chegado uma hora antes da exfoliação, dei umas boas braçadas na piscina interior, bem quentinha e massajante (existem lá uns botões que depois de ligados lançam jactos de água direccionados para as pernas e costas), na pequena piscina do mar morto (com alta concentração de sal), no jacuzzi e no banho romano (menos húmido que o banho turco e menos seco que a sauna). Depois da exfoliação e massagem finalizei o ritual com um chá de menta,  ao som de uma música bem relaxante, numa das espreguiçadeira disponíveis com vista para a piscina exterior do hotel, qual cenário nas Caraíbas!

Depois do almoço fui visitar o museu rural da Quinta dos Avós (gratuito e só aberto aos sábado à tarde) que reune uma pequena colecção de veículos de tracção animal (carros de mula, charrete, carro da água, carro dos cântaros, carro de capoeira, carreta, aranha) utilizados pelos algarvios, até ao aparecimento do automóvel. Outros objectos bem antigos, como alfaias agrícolas, arreios, pesos, gravuras e fotografias completam a colecção deste pequeno museu. No final da visita ainda fiz a degustação do doce de medronho (o sabor é bom mas é adstringente devido à polpa do próprio fruto).






Fomos ao cinema ver um filme hilariante: "Johnny English 2" onde demos algumas gargalhadas e assistimos a um musical de tango e dança: "La Porteña Tango", um belissimo espectáculo  dirigido e bailado por um grupo de artistas Argentinos.
E como não podia deixar de ser, fiz mais um aniversário e passei a fasquia dos 35. Foi bom estar com a familia reunida ao almoço e ao lanche onde fui mimada e acarinhada, por todos.

O último fim de semana do mês foi passado na região de Lisboa e margem sul.
No sábado, saímos cedo em direcção à margem sul, tendo como primeira paragem o monumento nacional: a Fortaleza de S. Filipe, em Setúbal. Conhecido, também, por Castelo de São Filipe foi construído como defesa durante o período Filipino, no século XVI. Esta soberba estrutura, onde também está localizada uma das bonitas pousadas históricas de Portugal, domina a entrada do Sado e tinha dupla função. Além de servir de defesa contra os ataques dos piratas do norte de África e França juntamente com os ataques dos Ingleses e Holandeses, que nos finais dos séculos XVI estavam em guerra contra Espanha, também servia, de defesa do rei Espanhol e seus apoiantes, na vigia da população local insatisfeita por Portugal estar sob domínio Espanhol.


Pormenores da fortaleza de S. Filipe e vista sob Setúbal


Continuando o percurso pela belissima Serra da Árrabida, vimos o convento do mesmo nome, construído no século XVI. Abrangendo 25 hectares de terra, é composto pelo convento velho, o convento novo, o jardim e o santuário do bom Jesus. Após a extinção das ordens religiosas, em 1834, foi abandonado e pilhado, tendo sido vendido e restaurado posteriormente, no século XX, e depois vendido à Fundação Oriente que o gere, actualmente. As visitas só podem ser feitas por marcação prévia e também podem ser alugadas as suas instalações para colóquios, palestras e até como quartos de hotel. As vistas são deslumbrantes.


Vistas do convento da Árrabida e da sua paisagem envolvente


E depois do almoço em Sesimbra composto por uma boa feijoada de choco num restaurante bem simples mas com comida saborosa, fomos admirar o bonito Castelo de Sesimbra. Sesimbra é uma vila que se desenvolveu na época dos Descobrimentos, tendo sido um importante porto da construção naval e abastecimento das embarcações.


Vistas do castelo e da praia de Sesimbra


O Castelo de Sesimbra ou Castelo de Mouros está situado numa falésia a 240 metros acima do nível do mar, na península de Setúbal. A partir de uma fortificação enfraquecida, em 1165, D. Afonso Henriques (o primeiro rei Português) procedeu a restauros no local do actual castelo.


Pormenores do castelo e vistas sob Sesimbra


Actualmente, é possível ver a Torre da Atalaia (construído no reinado de D. Dinis para vigiar toda a costa marítima a sul), a cerca muralhada dos séculos XIII-XIV para proteger a povoação, a alcaçova (residência do alcaide e sua familia, representante da ordem militar de Santiago), a Torre de Menagem (torre mais alta para vigiar o acesso à vila e comunicar com os outros castelos) e a simples mas bonita Igreja Nossa Senhora do Castelo, de estilo românico-gótico, erguida em 1160 e fortemente restaurada em 1721.


Igreja nossa Srª do Castelo


Rapidamente, fomos para Vila Nogueira de Azeitão onde fizemos uma visita (paga e pré-marcada) à casa museu José Maria da Fonseca (que ficará para um post posterior). A noite terminou a relembrar velhas histórias de adolescência com duas amigas, na casa de uma delas, na Moita após o jantar tipicamente British.

No dia seguinte, antes de visitarmos o Palácio Nacional da Ajuda e o Jardim Botânico anexo (que ficará, também, para um próximo post)  passamos pelo Mosteiro dos Jerónimos e tomamos o pequeno almoço em Belém, não sem antes nos depararmos com a bonita Igreja da Memória, onde está o túmulo do Marquês de Pombal.

Igreja da Memória


Acabamos a nossa viagem, depois do almoço, a passear junto à baía e à marina de Cascais antes de regressarmos ao Algarve.

Cascais é uma bonita vila, uma das mais populosas de Portugal, que se recusa a passar para cidade por motivos turísticos. As casas senhoriais (onde a antiga nobreza, nos finais do século XIX, passava a época de veraneio), o Farol de Santa Marta (com 20 metros de altura, além de auxiliar na navegação também funciona como museu), as muralhas do Forte da Nossa Senhora da Luz e os vários palacetes fazem parte desta vila que foi o primeiro local da instalação de electricidade em Portugal.


Fachadas dos vários edificios de Cascais


De salientar que a próxima viagem de férias já está próxima (e mesmo próxima), mas que eu não vou dizer qual é, por motivos supersticiosos, mas só vos posso dizer que estou a aprender (a tentar pelo menos) a "hablar castellano". Palpites???




terça-feira, 8 de novembro de 2011

Istambul II: a cidade das civilizações


Mesquita Azul (o cartão postal de Istambul)

Apesar de Ankara ser a capital do país, Istambul é a cidade mais populosa do país e a quinta maior do mundo, com quase 14 milhões de habitantes. Considerada por ser uma das cidades mais importantes da religião Islâmica com um grande número de mesquitas espalhadas, Istambul também é o principal pólo do comércio, indústria, universitário e cultural do país.

No dia seguinte, após uma noite bem descansada (e merecida) e com o tempo melhor (apesar do frio anormal no início de Outubro) começamos por visitar a mesquita de Rüstem Pasha. Esta é caracterizada pelos belíssimos azulejos de Iznik (cidade próxima que produzia os mais belos azulejos de toda a região), tendo sido construída para o marido da princesa Mihrimah (filha do sultão Solimão, o Magnífico e Roxelana), no século XVI. Está localizada por cima de um complexo de lojas, cujas rendas eram utilizadas nos gastos da mesquita. Os azulejos em tons de azul e vermelho com motivos florais e geométricos (uma vez que figuras de santos são estritamente proibidas pela religião Muçulmana), aliados aos bonitos candeeiros e o tapete vermelho, fazem dela uma das mesquitas mais ricas em azulejaria e com um interior muito bonito.

Pormenores do interior da Mesquita de Rüstem Pasha

No interior das mesquitas é obrigatório entrarmos descalços (deixamos os sapatos à entrada ou levamo-los guardados connosco) ou então utilizarmos uma protecção plástica por cima dos sapatos, assim como é também proibido entrar com os ombros e os joelhos descobertos. Li que em alguns países é obrigatório usar um lenço na cabeça quando se entra numa mesquita, contudo aqui nunca houve a necessidade de tal (eu usei sim, mas para me proteger do frio e na rua).

Depois fomos então para o centro histórico e principal da região (o mais importante a nível histórico, arqueológico e turístico), património da humanidade da UNESCO devido aos seus monumentos e ruínas históricas importantes, em Sultanahmed. Aqui, no alto da colina estão localizadas a mesquita de Sultan Ahmed Camii (vulgarmente conhecida como "Mesquita Azul") e na sua frente Hagia Sofia.

A "Mesquita Azul" foi mandada construir pelo sultão Ahmed, nas primeiras duas décadas do século XVII para ofuscar a beleza de Hagia Sofia, sendo que alguns dos pedreiros que ajudaram na sua construção construiram o Taj Mahal. Dotada de uma arquitectura impressionante com 6 minaretes (só as mesquitas imperiais podem ter este número), o seu nome vem do facto do seu interior conter mais de 21000 azulejos em várias tonalidades de azul, também vindos de Iznik.

Pormenor frontal da Mesquita Azul


Pormenores interiores da Mesquita Azul


Em Sultanahmed

Hagia Sofia foi uma igreja construida em 537 d.C pelo imperador Romano Justinus, tendo na época sido a maior igreja cristã do mundo. No século XV, após a queda da igreja Católica, mas devido à sua rara e enorme beleza foi convertida em mesquita (embora as figuras religiosas das paredes  tenham sido tapadas) e em 1934 em museu.


Hagia Sofia




Em Hagia Sofia perdemos-nos do restante grupo que tinha aproveitado para ir à casa de banho antes de entrar (na entrada de muitos locais públicos, como este, tivemos de passar por detectores de metais e a confusão e as pessoas eram muitas). Aproveitamos para ver toda aquela beleza, o interior ricamente decorado com muitas das figuras que tinham sido tapadas, agora descobertas.




Depois enquanto esperavamos pelo restante grupo vimos ainda uma manifestação de um grupo de jovens seguido da polícia anti-choque. Não houve qualquer confronto e nem confusão (livra)!
Vimos e ouvimos os gritos dos vendedores de pão (simit), tapetes e revistas pelas ruas, numa confusão sem igual!

Numa praça ao lado da mesquita azul está o hipódromo, um local que era o centro da cidade há mais de 1000 anos, tendo sido palco de uma guerra sangrenta no século VI. Actalmente, só existe a parte central dos monumentos. Exemplos dissos, temos o obelisco Egípcio, a coluna de tijolo e a Fonte Alemã.
A obelisco mais antigo de Istambul é o Egípcio (ou de Teodósio), talvez erguido em 1500 a.C no antigo Egipto e depois trazido para Istambul no século IV d.C, para ornamentar, melhorar e desenvolver a cidade. Mede quase 20 metros de altura mas pensa-se que falta grande parte da pedra original.



 Detalhes do obelisco Egípcio




Não se sabe exactamente quando foi construída a coluna de tijolo (na foto seguinte) que mede 32 metros de altura e é feita de pedras talhadas de diferentes tamanhos. Pensa-se que poderá ser dos séculos IV-V a.C e terá sido restaurada no século X d.C, após muitos anos de pilhagens e abandono.




A fonte Alemã é, provavelmente, o elemento  mais recente introduzido nesta área, no século XIX  oferecido por um imperador Alemão impressionado com a hospitalidade Turca, cujos pormenores se podem ver nas fotos seguintes:




Na parte da tarde, o sol deu o ar da sua graça e vistamos o palácio de Topkapi, a primeira residência oficial dos sultões (tendo continuando-o a ser por mais 400 anos), mandado construir em 1453 pelo sultão Mehmet II. Em 1853, o sultão Abdül Mecid I trocou-o pelo Palácio de Dolmabahçe (a foto deste encontra-se no post anterior) e desde 1924 que foi transformado em museu.


Parte frontal do palácio de Topkapi


Estivemos a ver o palácio constituído por uma série de pavilhões, entre os quais se inclui o harém. Este era ocupado por 1000 pessoas, incluindo as esposas, concubinas e filhos do sultão, assim como pelos Eunucos que as guardavam. Esses tempos passaram mas actualmente é possível admirar todo aquele espaço como, também, uma série de objectos valiosos e opulentos tais como armas, armaduras, trajes imperiais, relógios, peças de: cerâmica, vidro e prata, adagas com maravilhosas jóias incrustadas, manuscritos e cópias do Alcorão ricamente decorados.


Pormenores do palácio de Topkapi


Aproveitamos o final da tarde para fazer compras no Grand Bazaar, o maior mercado coberto do mundo, com mais de 4000 lojas divididas por ruas especializadas,  com tudo o que se possa querer, desde jóias, tecidos, lâmpadas, metais, vidros, chaleiras... Aproveitei aqui para provar e comprar uns doces chamados "Delicia Turca"e uns porta-chaves com o olho do mau olhado (símbolo para livrar da inveja, usualmente usado) para oferta. Fica no centro da cidade e tem atraido comerciantes e clientes durante séculos. É só ficar e observar os objectos desejados e depois tentar negociar. O preço final pode descer até metade ou dois terços do inicial, à excepção daqueles já marcados (e mesmo assim pode-se sempre tentar).


Pormenores do Grand Bazaar


Antes de jantarmos num self-service (a fome era tanta que paramos no primeiro local onde serviam alguma coisa comestível) fomos a um hamman, uma versão antiga do actual spa. Existem vários espalhados pela cidade  e foram introduzidos pelos Otomanos, uma vez que acreditavam que a limpeza física também ia ajudar na limpeza espiritual, sendo um local de relaxamento e socialização (mas homens e mulheres ficam em locais separados). Inicialmente, ficamos deitadas em cima de uma pedra octogonal, quente, em mármore e depois fomos esfregadas, massajadas e lavadas (até mesmo o cabelo) e depois fomos relaxar para uma bela e grande banheira de água bem quentinha.

Ainda tivemos tempo de provar o gelado Turco, um pouco estranho mas bom e depois de termos andando de autocarro, funicular e metro chegamos finalmente ao hotel.
E foi interessante observar que não vimos qualquer criança abandonada ou mendigo na rua a pedir. Também não sentimos qualquer insegurança enquanto andavamos pela ruas.  E até quando pedimos ajuda a um senhor já de idade em Inglês, prontamente nos auxiliou.

No outro dia, acordamos cedo e a nossa guia deixou-nos dentro do aeroporto (a segurança à entrada é impressionante com vários detectores de metais). E no final foi razão para lhe dizer: "Tesekkur ederim  (tradução: muito obrigada) Sheffika, que nos acompanhaste durante toda esta viagem".

E só vos posso dizer que apesar das minhas expectativas em relação a Istambul serem altas foram tudo o que eu estava à espera e um pouco mais (apesar do tempo não ter estado o ideal) e nos primeiros dias que regressei a Portugal senti saudades do despertar da primeira oração da manhã e das mesquitas lá bem no fundo... do horizonte!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Istambul I: na passagem entre a Ásia e a Europa!

E se eu me estava a queixar do tempo em Ankara, nesse dia, no dia seguinte foi muito pior. Continuou a chover enquanto passavamos pelas montanhas de Bolu e depois ocorreu uma valente trovoada quando passavamos da Ásia para a Europa. Até parecia que todos aqueles relâmpagos nos estavam a dar as boas vindas, na chegada a uma das cidades mais fascinantes e distintas que conheci até hoje: Istambul!

Esta cidade divide-se em duas partes com o estreito do Bósforo a ligar o mar de Mármara com o Mar Negro (que se devia chamar Mar do Norte, mas já existia um com esse nome) e é a única cidade do mundo a ocupar dois continentes. O centro da parte Europeia da cidade está também dividida pelo estuário designado como "Corno de Ouro".  As montanhas mais altas estão situadas na zona Asiática.


Ponte de Bósforo (separa os dois continentes)

A cidade foi desde, tempos imemóriais, local de importantes trocas comerciais entre o oriente e ocidente devido à sua importante localização geográfica. Foram encontrados vestígios arqueológicos anteriores a 6000 a.C e teve como primeiro nome "Bizâncio", depois "Constantinopla" no tempo dos Romanos e depois o actual nome de "Istambul".

Depois do almoço, num restaurante em frente ao Bósforo, que consistiu em algumas boas mezzes (entradas) e o tradicional folhado de queijo, fomos fazer um cruzeiro (a chuva acalmou um pouco nesse período) onde foi possível ver todos aqueles grandiosos palácios à beira mar plantados...


Palácio Beylerbevi

Palácio de Çiragan

Palácio Dolmabahçe


...as casas sofisticadas e majestosas construídas em madeira...












...as muralhas dos fortes e castelos que permitiram a defesa dos vários impérios durante séculos, as numerosas mesquitas, os bonitos hotéis, as várias pontes e até um submarino.



Mesquita Dolmabahçe

Mesquita Nova

Mesquita Ortaköy

Por causa da chuva (e devido aos muitos engarrafamentos desta caótica cidade), fomos para uma loja de peles onde estivemos a assistir a um desfile de casacos de peles e a beber chá de maçã (o tradicional chay). Inclusivemente até alguns dos elementos do grupo desfilaram, tal como o meu marido, que apesar de coxo desfilou com peles de troglodita, o que causou uma gargalhada geral no público (hahaha).

E depois ficamos hospedados no melhor hotel de toda a viagem: o Hotel Ramada Plaza, onde nos atribuiram uma suite com uma grande cama de casal, sala de estar com sofás e LCD, secretária, cozinha, duas casas de banho em mármore, tendo uma delas uma grande banheira com hidromassagem, onde me deliciei com um grande banho de espuma no final do dia, tudo porque não haviam mais quartos simples disponíveis (hahaha). 



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ankara, a capital da Turquia Moderna

Pormenor de uma das paredes do mausóleu
de Ataturk


Apesar da lesão no pé do meu marido, foi graças à meia elástica de uma das nossas colegas de grupo (o nosso obrigado à Alexandra) que a nossa viagem iniciou no dia seguinte com a visita à cidade subterrânea de Saratli Kirkgöz Yeralti Sehri, uma das muitas cidades escavadas em rochas vulcânicas por uma das civilizações mais antigas e poderosas: os Hititas. Existentes há 4000 anos atrás, estes fundaram um poderoso império na Anatólia (actual Turquia) e a sua queda só se deu nos séculos XIII-XII a.C.



Estas cidades constituíam autênticos labirintos, bem estruturados e com locais bem definidos para o armazenamento de alimentos, poços, cozinhas e que através dos seus canais sinuosos e estreitos permitiam dificultar a passagem dos inimigos e  manter a população a salvo, durante meses.



Depois passamos por um dos lagos mais salgados: o Tuzgal, com mais de 100 quilometros de extensão, 40 metros de profundidade e que abastece a maior parte do sal consumido no país, no percurso em direcção à Ankara, a capital do país.




Quando lá chegamos já a chuva ameaçava aparecer e depois choveu mesmo (e eu a pensar que na Turquia chovia pouco, em particular no mês de Outubro, como estava bem enganada), quando chegamos ao mausóleu de Ataturk (apelido, este, que significa "pai dos Turcos") onde se pode ver o seu túmulo. Nas seguintes fotos podem-se aqui ver o mausóleu e alguns pormenores do mesmo (à esquerda, em baixo, o bonito tecto do túmulo de Ataturk).






Mustafa Kemal Ataturk foi o fundador da república Turca, da ocidentalização e do estado laico no país, sendo admirado e mesmo venerado pela população.
Apesar de existirem muitas mesquitas na Turquia, a sua visita não é obrigatória cinco vezes por dia, as mulheres vestem-se à ocidental (podendo usar ou não lenço) e a bebida nacional é à base de alcool (raki), contrariando a religião predominante, a muçulmana.
Ataturk foi um oficial militar na 1ª Guerra Mundial e depois liderou o movimento nacional na Guerra da Indepêndencia Turca, estabelecendo governo em Ankara (nessa altura Istambul era a capital) e derrotando as forças dos Aliados, permitiu a independência do país.

A capital mudou então para Ankara e foi adoptado um alfabeto latino da familia ural-altaica (que compreende línguas como o Finlandês e o Húngaro), o uso do calendário Gregoriano (o Árabe rege-se de acordo com as luas), o direito de voto às mulheres e a monogamia (um homem só pode estar casado com uma mulher de cada vez), bem diferente da cultura e mentalidade Árabe.

Neste grandioso mausóleu, além do túmulo, pode-se ainda ver a reconstrução de cenas de batalhas que parecem ser bem reais, com bons efeitos sonoros e visuais, assim como objectos da vida privada de Ataturk.

Ankara deriva da palavra "ángora" e é uma importante cidade industrial e comercial. Além de estar localizada no centro e ser o centro do governo da Turquia, é famosa pela lã mohair (o símbolo da cidade é uma cabra, da qual se extrai a sua lã), pela raça única de gatos e coelhos.

Antes de voltarmos para o nosso hotel, em Ankara, fizemos uma visita panorâmica pela cidade (de autocarro, porque chovia bastante) e fomos visitar o museu das civilizações antigas: o Anadolu Medeniyetleri Müzesi. Este, está muito bem organizado por ordem das várias épocas cronológicas históricas e reúne várias colecções de achados arqueológicos encontrados pela cidade, sendo considerado um dos melhores museus do mundo.