quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Visita à Casa Museu José Maria da Fonseca (Vinhos de Setúbal)

Conforme falado no post anterior, na viagem à margem sul, o ponto alto foi mesmo a visita à Casa Museu José Maria da Fonseca. Situada em Vila Nogueira de Azeitão, zona de bons vinhos ou não estariamos nós numa região vinícola demarcada por excelência, em particular o famoso vinho dourado, com sabor delicado e perfume suave designado por "moscatel".

 A qualidade do vinho está fortemente influenciada com a qualidade da uva e esta está dependente directamente do clima e do solo utilizado. Na região de Setúbal, se por um lado existem terrenos argilosos e calcários nas montanhas da Árrabida por outro temos numerosas planícies, que aliados a um clima caracterizado por poucas oscilações de temperatura e baixa pluviosidade, pela sua proximidade marítima, garantem assim o crescimento e a fácil manutenção dos vinhedos.


Fachada exterior da casa museu

Aqui, foi possível ver a antiga casa de família de José Maria da Fonseca, sendo que actualmente está na sétima geração e esta é a adega mais antiga de toda a região (produzem vinho desde 1834). Esta empresa tem continuado sempre nesta familia, embora o nome seja actualmente Soares Franco (devido a casamentos acabou por mudar).
No primeiro andar está situado o escritório e na parte de baixo as duas adegas visitáveis.

Inicialmente, começamos por ver uma sala museu onde foram dadas algumas explicações sobre a empresa, o seu espaço, um exemplar da primeira máquina de enchimento mecanizado de 1950 (ver foto abaixo à esquerda), vinda da França, que enchia 240 garrafas por hora, um verdadeiro recorde na época, nos anos 70 (actualmente, o enchimento é feito a larga escala e por hora são cheias 30 000 garrafas por hora)!  O vidro vinha da França e Inglaterra. O vinho Periquita (um dos mais famosos) é o dos mais antigos desta empresa e a ser enchido mecanicamente.




Vimos, também, os vários prémios (constituído por várias medalhas e diplomas expostos numa parede, conforme foto acima). Em 1834, José Maria da Fonseca ganhou pela primeira vez um prémio num vinho e pioneiro, na inovação, desenvolveu as vinhas em paralelo, o que permitiu que se pudesse utilizar máquinas entre as parreiras, numa época onde ainda não existiam máquinas para tal. Em 1855, o vinho "moscatel da casa" ganhou pela primeira vez uma medalha, em Paris.

Existem vinhedos no Douro, Alentejo e claro está Setúbal, compreendendo mais de 600 hectares que são utilizados nos vinhos aqui produzidos. Além do consumo interno também são feitas muitas exportações: o famoso "Periquita" para o Brasil, o "Lancers" para a América do Norte e outros para os países nórdicos.

Na primeira adega (Adega da Mata), onde está guardada uma pequena parte da produção do vinho Periquita, cerca de 800.000 litros estão divididos entre 36 tóneis de madeira de mogno (vinda do Brasil e África) e 120 barris de carvalho Francês e Americano. Os tóneis de diferentes capacidades (~20.000 litros) foram todos construídos aqui dentro deste local há 80 anos, à mão, numa madeira resistente e neutra uma vez que não deixa qualquer sabor no vinho. Antes de ser engarrafado, o vinho fica aqui pelo menos 6 meses, sendo utilizada a mistura de 80% vinda dos tóneis com 20% vinda dos barris.
No vinho Periquita são utilizadas três castas diferentes de uvas: o castelão (antigamente, denominada como "Periquita", daí o nome), a trincadeira e o aragonez. Existem vários tipos de vinho Periquita: tinto, branco, rosé e tinto reserva (fica pelo menos oito meses e meio somente em barris de carvalho e as castas são diferentes, pois além da casta castelão leva também as castas: touriga nacional e touriga franca) e Periquita superior (o topo de gama, que leva só a casta castelão).

A outra adega designada como "Teares Velhos" era uma antiga fábrica de têxteis utilizada para fazer o fardamento das tropas Portuguesas e Inglesas durante as invasões Francesas e uma antiga propriedade dos Duques de Aveiro (data de 1750) que em 1820 foi comprada por José Maria da Fonseca, para ampliar as suas instalações.

Aí funciona, actualmente, a adega de vinho moscatel, bem mais escura do que a primeira.  Estão, ali, distribuidos pelos vários e enormes barris, cerca de 400.000 litros de moscatel, com mais de 20 anos.
Os cantos gregorianos invadem o local, uma vez que havia aqui perto um convento (S. Domingos), embora estes não tenham qualquer influência no vinho, propriamente dita.


Barris da adega do vinho Moscatel


Este tipo de vinho é mais doce e fortificado, tal como o vinho do Porto, devido à adição de aguardente vínica que interrompe a fermentação quando esta se inicia, sendo posteriormente colocado em barris de carvalho, onde previamente foi colocado o vinho Periquita durante 5 anos.

Existem vários tipos de moscatel: o novo (fica entre 3 a 5 anos no barril), o velho (fica pelo menos 20 anos no barril) o de Setúbal superior, (é proveniente de vinhos de anos de grande qualidade e que depois ficam armazenados de 30 a 60 anos, tornando-se assim mais escuro, espesso e doce) e o Setúbal roxo (neste é utilizado uma casta específica de uva roxa, mais doce e rara, só desta região e diferente da vulgar uva moscatel cuja coloração se situa entre o branco e o amarelado).

Também está presente no local um poderoso candeeiro com 50 anos que reflecte as iniciais de José Maria da Fonseca, no chão, e uma reserva exclusiva da família cuja entrada está impossibilitada, pois nem a nossa guia tinha as chaves. Conseguimos tirar apenas uma foto a partir de uma pequena abertura da porta daquele cenário fantasmagórico e com valor incalculável, pois contém vinho moscatel de reserva com mais de 100 anos e 80 vintages de vinho moscatel, desde 1900, numa colecção única.


Colecção rara de vinho moscatel

Depois no final fizemos as provas de dois vinhos: o "Periquita reserva de 2008" (que eu não apreciei especialmente),  utilizado no acompanhamento de queijos e carnes e o "Moscatel Alambra de 2007" (delicioso), utilizado à temperatura ambiente para sobremesas ou como fresco para aperitivo. O custo é de 3€ por pessoa pela visita e inclui a degustação de dois vinhos no final (um branco ou tinto e o outro moscatel).

Por fim, provamos as boas e famosas tortas de Azeitão depois de tirarmos algumas fotografias da vila.

Tortas de Azeitão

2 comentários:

  1. Excelente reportagem mesmo para quem é da região como eu. Faz anos que lá não vou, fiquei com muita vontade de lá voltar, afinal estou aqui tão perto!

    Obrigado pelas preciosas informações. Quanto às tortas sou adepto dessas que estão na foto e que são uma especialidade da casa S.Lourenço.

    um beijinhooo

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  2. Realmente as tortas são deliciosas mas não sabia qual era o nome da casa (a indicação do local foi-nos dado pela senhora que nos atendeu no restaurante, em Sesimbra). Mas desde já obrigada pela informação. Bj grande

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